segunda-feira, 29 de março de 2010

Segundo dia


Em séculos e séculos os Deuses da chamada harmonia natural da terra, o Deus do Bem e o Deus do Mal, desciam na terra para escolherem seus representantes perpetuando dessa forma a eterna briga entre o bem e o mal.
Cada escolhido recebia poderes, o Deus do Bem, escolhia um jovem de dezessete a vinte anos dotada de amor e esperança para representá-lo entre aqueles com cicatrizes inserido pelo laço familiar em forma de um circulo com uma cruz no meio.
O Deus do Mal, selecionava um jovem também com idade entre dezessete e vinte anos, repleto de angústia e ódio que geralmente não eram de famílias tradicionais e assim não possuíam nenhuma marca no corpo e também eram repassados poderes inimagináveis.



Os escolhidos eram chamados de magos das luzes, magos das trevas, magos do bem ou mesmo magos do mal, alguns também os chamavam de bruxos.
Nenhum ser poderia se oferecer para ser um mago, a escolha partia unicamente dos deuses, e a esses, jamais se poderia recusar, sob pena de exterminação de toda a linhagem existente, para que dessa forma, nenhuma geração futura pudesse divulgar que um dia um antepassado se recusou a servi-lo,
Aos magos, além dos poderes, recebiam vida eterna, de acordo com seus atos, aos magos bons, quanto mais bondade, maior seria sua duração na terra, e aos maus, quanto mais malvadezas maior seria sua permanência entre a humanidade. Um mago poderia ser eterno, dependeria unicamente de suas ações, porem, envelheceriam precocemente se recusasse a cumprir as ordens de seus deuses.
Para cada escolhido, restava apenas observar o falecimento de seus pais, filhos, netos sem nada poder fazer. Era expressamente proibido usar seus poderes para beneficio do mesmo sangue e por toda a eternidade deveria combater o mal ou combater o bem , a recusa absoluta resultaria no envelhecimento culminando em morte, porém inimaginavelmente dolorida.

Era comum batalhas entre o bem e o mal num ambiente de muito fogo, tempestades e ventanias, dessa forma foi necessário a criação de proteção para os homens através das cercas naturais de pedras feitas a quatro mãos, homens e deuses, assim como também era comum encontrar entulhos e ruínas após longas batalhas travadas.
Nessa época, nem sempre o bem vencia ou a humanidade era salva pelo Deus Supremo, responsável por todo o Universo, ninguém o enxergava, ninguém o tocava, mas todos acreditavam que ele existia, pois quando tudo parecia estar totalmente perdido, o Deus Supremo era a salvação, assim, sobreviviam aqueles que acreditavam num Deus maior, por acreditar e presenciar o poder supremo do bem ou do Amor como alguns bradavam ao ar livre ou simplesmente chamavam de fé.
O suicídio em massa era praticado por aqueles que entregavam suas vidas ao mal lhe oferecendo suas almas por toda a eternidade , esses por não terem fé ou simplesmente por renegarem o bem, o amor.

Nessa turbulência entre o bem e o mal vivia Bnus, tatuado pelas famílias do bem, um rapaz filho de lenhador, forte e voraz como um leão, ligeiro como um leopardo e sagaz como uma águia, trabalhava o dia todo e antes do sol se por entre as montanhas permitidas para o labor, ele deixava repousar seu machado para correr entre as árvores até se deparar numa bela cachoeira, diante dela, ele se despia, abrindo os braços aos céus ele mergulhava acompanhando a queda d’água para dessa forma poder se refrescar.
Após o banho, ele retornava para seu vilarejo e passava todos os dias pela morada de Qeb também tatuada pela linhagem do bem, uma moça tão bela quanto a junção de todas as flores existente na terra.
Bnus, escondido, imitava um pássaro para chamar Qeb, filha de Guhu e Uisse, assim, ela saia escondida de seus pais e de mãos entrelaçadas e sorrisos radiantes, corriam entre pequenas ruínas, trajeto esse que eles conheciam perfeitamente pois passaram toda sua infância brincando entre elas, deixando cravadas nas pedras a jura do amor eterno e com o passar dos anos, essas pedras foram testemunhas desse acontecimento.
O sol e a lua comprovaram que muito mais que um amor verdadeiro existia entre eles, não existia nenhum significado o amanhecer e o anoitecer se por um momento suas mãos e seus olhos fossem impedidos de se encontrarem.
Eles vinham de uma geração feliz, os deuses deram uma trégua para os homens após a ultima intervenção do Deus Supremo e já se completava três décadas de calmaria.
Em alguns lugares desse vilarejo ainda existia reuniões de pessoas, umas representando o bem, agradecendo pela paz reinante, e em outros lugares mais obscuros, pessoas portadoras de ódio aclamavam pelo retorno do deus do mal para acabar com seus sofrimentos lhe arrancando a maior dádiva que cada um possuía que era suas próprias vidas.

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