terça-feira, 30 de março de 2010

Terceiro dia


Pessoas carregadas de ódio e impregnadas de vícios faziam rituais oferecendo corpos de animais e até mesmo corpos de suas próprias filhas virgens sacrificando-as em oferenda ao mal num banquete onde após o sacrifico feito, todos bebiam o sangue da vitima viva morta sob a mesa de pedra o após estarem embriagados de uma bebida mesclada por frutos fermentados e sangue.
Mulheres renegadas de cabeças raspadas perpetuamente eram responsáveis pelo armazenamento e guarda em recipientes de vidro dessa bebida profana.
Enquanto tomavam a bebida, as vistas cegavam, tudo ficava negro, como se o mal incorporasse cada vida de cada um que estava presente, e eles, exalavam satisfação com gargalhadas acreditando que o deus do mal estava presente incorporando um a um.
O que realmente acontecia, era a presença dos anjos do bem, representantes direto do Deus Supremo, que entravam nesses recintos, e todos os seres que almejavam e praticavam o mal, ficavam cegos e tudo ficava escuro com a presença dos anjos, o único ser que conseguia enxergar a presença dos anjos luz, era a jovem virgem sacrificada que recebia um leve sopro de vida para ser carregada pelos anjos para junto do Deus Supremo, seu corpo ficava lá, sem sangue, sem vida, mas a essência de sua alma era protegida.
Depois de momentos de escuridão, voltava a visão daqueles que presenciavam o ritual, e ao perceber que o corpo já estava totalmente sem vida, faziam festa, pois acreditavam que o deus do mal aceitou suas oferenda.

No outro lado do vilarejo, Bnus e Qeb corriam até chegar num campo aberto forrado por um pasto verde. Corriam, pulavam, rolavam, brincavam como duas crianças fazendo planos do dia do casamento o qual seria o dia mais feliz de suas vidas.
Nas rochas, cravavam o nome escolhido de seus filhos, desenhavam nas paredes como seria sua casa e planejavam cada momento de suas vidas.
Bnus pegava nas mãos de Qeb, olhava fixamente em seus olhos, deixando escapar tremores em seus lábios antes de suas palavras tentarem dar significados aos seus sentimentos.
- Qeb, faltam três luas cheias para eu completar 21 anos, assim, na Quarta lua cheia vamos nos casar, Ter filhos, dividirei você com o sol, pois ambos meu corpo necessitará para se aquecer, dividirei você com a lua, pois a luminosidade dela e o brilho de seus olhos iluminará meus sonhos, e um dia, se Deus Supremo me mandar escolher entre você o sol e a lua, escolherei você, mesmo sabendo que meu corpo não viveria com a ausência do sol e minhas noites seriam eternamente escura com a ausência da luz da lua, mas para nada me adiantariam se você estivesse longe de meus braços.
Os olhos de Qeb brilhavam ao mesmo tempo que sentia seu coração explodir de felicidade.
- Bnus, jamais o deixarei, não precisarei do sol, pois sei que encontrarei calor em seus braços e as noites jamais serão escuras pois não precisarei abrir meus olhos pois estarei protegida sabendo que você estará ao meu lado.
Bnus observava cada traço do rosto de Qeb, seus cabelos, seus olhos, sua pele, e deixava que seus lábios fossem porta-voz de seus sentimentos, talvez por que esse sentimento fosse tão grande que transbordava ao vento em forma de palavras:
- Seus cabelos são negros, tão negro quanto o céu noturno, sua pele é branca, tão branca quanto a face da lua, seus olhos são verdes, tão verdes quanto as esmeraldas, suas mãos são macias, semelhante com a neve, seus lábios são perfeitos de indescritível beleza, seu sorriso é contagiante e eternamente inesquecível...
- Rogo ao Deus Supremo nesse momento para me transformar num escultor, e em minhas mãos coloque uma talhadeira e eu como mero mortal serei um escultor para poder eternizá-la na mais bela obra e como prêmio por tal dedicação apenas iria receber a eterna visualização de sua beleza, e um dia, quando não mais estiver entre os mortais, saberei que você estará sendo admirada através da minha obra... Em vida, aceitarei ser duramente castigado por cada traço mal esculpido, aceitaria a morte por apenas um toque mal colocado, porém, caso obtenha êxito, rogaria ao Deus Supremo para que proteja essa obra pela eternidade, pois eu não serei imortal mas sua beleza será.\
Qeb não conseguia conter suas lágrimas, apenas escutava Bnus, sentindo seu peito apertado a cada batida de seu coração.
- Qeb, sou apaixonado por vocë... Todos os momentos de meu dia e da noite você esta em meus pensamento...
- Meus sentimentos por ti é tao verdadeiro que até ao seu lado, tenho medo de perdê-la, assim, vem em minha mente a ansiedade constante de ser racional e ser sabedor de que enquanto meu braço e meu machado se funde num só para cortar a lenha que aquecerá os homens e nesse momento você está distante de meus olhos, distante de meus braços, e a cada machadada, sou castigado pela mãe natureza que coloca em minha visão jardins de flores de inenarrável beleza, tento ignorar olhando apenas aos céus e consigo observar pássaros riscando as copas das árvores com sua esplêndida liberdade e com sinfonias perfeitas de seus cantos...
- Fecho os olhos, para não sair desse sonho e só abro muito tempo depois por achar que estou ficando louco me deparando com a lua pedindo passagem ao sol, única em sua essência, de intocável beleza e com toda sua luminosidade, assim, fico perplexo, pois das flores lembro de sua beleza e seu perfume; dos pássaros, recordo de seus gestos perfeitos, de sua voz e de sua liberdade; da lua, vejo o brilho de seus olhos e o tão distante você está de meus braços.
- Saio correndo, abandonando tudo em minha volta, mergulho em águas geladas para despertar desse sonho, e aqui eu paro, em frente a ti, simplesmente para lhe falar dos meus sonhos e do quanto te amo.
Qeb não se continha em escutar palavras tão bela, por mais que ela buscasse palavras, ela jamais conseguiria expressar o tamanho do seu amor por Bnus, assim, como compreensão de todas as palavras que acabara de ouvir, ela simplesmente fechava os olhos, libertava os lábios ao encontro dos lábios de Bnus, e eles se beijavam, ignorando as estrelas, ignorando o horizonte, ignorando o mundo, eles se beijavam, e no silêncio da noite, escutava-se apenas o som de seus lábios se tocando e o leve toque da brisa nas copas das árvores.
O desejo de seus corpos só era limitado pela esperança de em breve estarem juntos para sempre, e assim, se abraçavam, se beijavam, sentindo uma mescla de liberdade e prisão, como um pássaro sem asas, com seus pés ao chão e seus pensamentos aos céus.

É difícil imaginar um amor tão verdadeiro num tempo tão remoto, é complexo encontrar compreensão da união de duas pessoas feitas uma para outra. Em minha época, hoje, nas ruas, nas casas, não mais encontramos amor eterno, e quando achamos que encontramos, nos frustramos por saber que no próximo amanhecer ele pode não mais estar presente se transformando em sonhos e em outras vezes em pesadelos.
Se um dia, num passado distante , realmente existiu esse amor, ou não, prefiro deixar que brote essa esperança no meu coração e acreditar que essa época realmente existiu e que o amor ainda está presente em algum coração...

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